pelos 30!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A terceira margem de mim



>>> Do corredor que dá acesso a meu quarto, escutei uns passos.  Parei para ouvir melhor. Silêncio. Poderia ser apenas uma impressão estranha se eu não tivesse certeza que, em seguida, ouvia o barulho das chaves na mesa de centro omo sempre fazia.

“Lins, você está aí?”
Silêncio descontínuo entre vento e ventania. Meu celular voltava a disparar. Era a minha mãe. Nem esperou eu ligar.

Oi minha mãe, a bênção!... Feliz dia das mães!... Estou muito feliz por você ser a minha linda mãe e eu, teu único garoto. Só não gosto da ideia de você está aí e eu aqui só. [...] Obrigado, eu te amo. [...] Estou sim, tento me alimentar bem na medida do impossível. [...] Ah, gostou? Queria te enviar algo melhor, algo diferente; espero que goste de verdade. [...] E as flores chegaram conservadas? [...] Não há porque agradecer, é um mimo apenas. [...] Sim, eu sei. Tento ligar, mas ele não me atende, diz que o número não existe. [...] Não posso desistir, minha mãe. Eu o amo, sempre amei, sinto falta dele, você sabe disso. [...] É... mas... por muito tempo queria que ele me amasse como eu o amo. [...] Não vou chorar. Eu sei. Não agüento mais esperar, mãe. Fico ansioso pra encontrá-lo. [...] A culpa é sua também que me manteve longe dele. Desculpa, minha mãe! [...] Sei que queria me proteger, mas eu sei me proteger, eu tenho 29 anos agora, esqueceu? Sei o que é certo pra mim. [...] Tudo bem, vou esperar. [...] Mãe, ele parece comigo? É, às vezes, sou confundido na rua. Será que ele tem outro? [...] Não conheço. Ok, tudo bem. Tenho que desligar. Curta seu dia! Ano que vem quem sabe nós três juntos? Impassível para você? Para mim não... te amo. Beijo. Outro.

Levei o celular ao centro da mesinha no meio da sala. Notei que ali mesmo estava um cartão de visitas com um número de celular. Quem o deixou? “Escritório de Advocacia Lins”? Liguei imediatamente. Estava nervoso. Nunca soube que era advogado.

Alô... com quem falo? [...] Gostaria de falar com o Senhor Lins, por favor. [...]  Não, não é engano. É... Rafael Lins. Está escrito aqui no  cartão “Escritório de Advocacia Lins” com este número. [...] Como é seu nome? [...]  Como? [...] Petro? Vo... você disse Petro? [...]  Mas não pode ser, Petro sou eu... [...] Ah, perdão: Pedro... Pedro Lins, é isso? Estranho... Desculpa então.

Agora era muito para mim. Não conseguia pensar. Lágrimas de raiva, de medo... um misto de dor e falta de coerência em minha vida. Tento retornar a ligação para minha mãe, mas ela não atende, celular na caixa. Queria explicação, queria entender. Eu... Lins... outro Lins? Uma brincadeira de mau gosto? É muito para mim.

13 comentários:

  1. Petro
    Hoje você se superou! Quando eu pensava que isso seria impossível[pela qualidade de tudo que tenho visto aqui]...
    Já fiquei com o coração oas pulos quando li o título: "A terceira margem de mim" [um lindo poema!]
    E as peças do dominó prestes a cair, em cadeia, a qualquer momento...[Sou de prestar muita atenção : cada detalhe me emociona!]
    Você é demais!
    Parabéns, meu querido amigo!

    Um grande abraço

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  2. Meu Deus! Me empolguei e não falei do texto, carro-chefe: maravilhoso, !!!

    Outro abraço

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  3. Suas palavras brincam lindamente nesse jogo de revela esconde...Mas agora sei que Petro tem afinal...29...Mas não sei se confundiu-se ao dizer que anos depois nascia Petro para narrar a história (ou estória ?) de Lins...pelo que me parecia Lins faria trinta...e Petro nascerá anos depois...?Agora quem é Rafael Lins? O autor? Tenho a leve impressão que me perdi, que esqueci de algum detalhe...desse intrincado jogo...Será que é apenas um devaneio e na verdade nada existe, além de palavras bem talhadas e escritas?
    Pq aparece uma peça fora desse jogo? Essas peças prestes a caírem...enquanto uma observa e descansa tranquilamente ao lado...Será que essa peça de dominó, é o autor que a tudo observa, e olha as outras peças que estão prestes à cair?Será que essas peças representam seus seguidores, que tentam quase que inultimente desvendar essa confusa história? Será que o que essas peças representam a verdade do autor que está prestes à cair?
    Será que um dia ele abrirá as cortinas...?

    ?????

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  4. Petro...
    você escreve muito bem...
    parabéns...dá vontade de ler mais e mais...
    e desvendar...segredos...
    Estou lendo a biografia do Gentileza...vou postar lá no blog depois...mas pra você...eu já adianto...
    "Universo Gentileza" de Leonardo Guelman...
    estou adorando...repleto de informações...
    beijos...gentis
    Leca

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  5. Lindo texto.. é ficcional? Não que isto importa pra beleza dele, mas importa pra tua vida. Um abraço

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  6. Nossa.. muito bom mesmo!
    Seu texto envolve e nos faz ficar ansiosos e com medo ao mesmo tempo. Você sabe brincar perfeitamente com o esconde-esconde e o suspense de situações tão simples.. é o terror que existe dentro de nós em situações dessas, mas que ninguém conhece, só quem sente.. hehe

    Abraço!

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  7. realidade ou ficção, Lins? rs*

    sabe que tenho um conto que rola uma confusão desse tipo... o final é louquérrimo, rs*

    beijos e bom fim de semana,

    obrigada pela visita

    MM.

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  8. Oiee, eu gostei muito do seu blog,Parabéns!
    Gostaria de convida-lo a conhecer o meu.
    Beijos

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  9. Quando vi o título logo pensei n"A Terceira Margem do Rio" do Guimarães Rosa...
    Pensando no texto dele, entendi o seu, mais ou menos...
    abraço

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  10. sim, visitei vc
    mas eu metido??
    pq????

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  11. Sem querer ser chato...mas vamos atualizar isto aqui?! rs Bj

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  12. Ola
    Parabéns pelo blog!
    Abcs
    Alexandre Taleb
    Consultor de Imagem/Personal Stylist
    Blog: http://ataleb.wordpress.com/

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  13. Beautifully written. What a brilliant piece.

    ~hugs~

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