pelos 30!

terça-feira, 4 de maio de 2010

Viver, verbo intrasitivo (direto)...


 
 (Foto: pedroaxl)

>>> Quando a gente quer mudar as coisas, basta olhar para o espelho e arriscar.  Não é um argumento de autoajuda, mas de vontade, mesmo que esta vontade seja movida pelo simples impulso. Foi essa atitude que tive ontem assim que o Lins saiu. Faz tempo que não penso mais em mim, e pensar muito nos outros é uma forma de esquecermo-nos de nós por quase sempre.

Eu preciso aprender a ser só, eu preciso ser mais independente. Acho que já ouvi isso de minha mãe na adolescência.  Não falo de uma independência financeira, de resolver minhas coisas, de sobreviver às lutas diárias. Não é isso. Preciso desenvolver independência interpessoal. E vou tentar, prometi ontem para mim enquanto mirava o espelho.

Tive alguns relacionamentos, namoros esporádicos... até paixões a flor da pele já vivi. Não, corrijo-me: prefiro dizer no singular. Paixão... viver paixão de verdade, só uma vez. Daquelas que a gente se pega - quando o sentimento passa - como a pessoa mais idiota do mundo, e sente-se envergonhado por ter dito que a amava depois do segundo beijo. É uma fase que prefiro não comentar, não viver... tentar me livrar. Amar é um verbo intransitivo, o poeta me lembra sempre.

Mas, voltando: hoje pus em prática o meu projeto de ontem enquanto deitado olhava para o teto. Acordei mais cedo e fiz meu próprio café da manhã. Não que nos outros dias não o fizesse; porém, o de hoje tinha mais sabor, as frutas eram mais coloridas, mais doces, o leite menos amargo. Não sei ao certo explicar. Banhei-me como quem se banha para casar e não sabe a hora certa do banho seguinte. Antes havia feito a barba, cortei-me no queixo... droga! Sangue tingindo a espuma. O vermelho no branco escorria entre os dedos. Por um instante, vi um pouco de poesia saindo de meu rosto azulado.

Cabelos semi-secos, e óculos de graus. Onde estão? Voltei ao espelho, sem mais gota de sangue. Senti-me mais jovem, só vinte e poucos! Pensei em por um pouco de que ele esqueceu, na hora do abraço, em cima da mesa do computador. Melhor não, eu disse! Melhor não depender do cheiro alheio mais uma vez. Poderia usar outros perfumes meus, mas saí com apenas o aroma do banho, o que não é ruim.

Escutei música no carro, bem alta... às vezes, baixinho para acompanhar cantando! Nunca fui fã de Michael Jackson. Quando eu era criança, ele me assustava com suas performances malditas, mas passei a ouvir algumas de suas músicas depois de sua morte e notei o quanto eram boas. Então, de uma seleção, escolhi This is it, a mais nova, e fui cantando, cantando. Fazia tempo que não cantava em inglês  - agora mais enferrujado.

Almocei no shopping após sair do trabalho. Comida japonesa me daria sono à tarde, eu sei. Não resisti. Voltei de lá depois de ver um filme sem sal a gosto. Dormi na metade com as pernas sobre a poltrona da frente sem pesar a consciência.

Parado no semáforo, tive a oportunidade de ver o pôr do sol mais vivo olhando para mim como se fosse só meu e daquela criança, que, no fim do malabarismo, me estende à mão... o semáforo arrisca se abrir. Estendo-lhe dez reais para compensar o espetáculo entre os tacos de madeira em frente ao sol e as luzes da cidade. Buzinas me irritam, mas hoje nem as ouvi, nem pirracei.

De volta para casa, uma mensagem no celular: “A viagem foi boa... neste momento respiro o vento que vem do mar em frente ao Farol da Barra. O sol já se foi há alguns minutos, pedi-lhe que iluminasse o seu fim de tarde. Lins”. Respondi: “hoje meu dia foi bem melhor sem você aqui porque o tempo não existiu para mim.” Droga! A bateria do celular descarregou. Não pude enviar.

4 comentários:

  1. Esse é o segredo, que inclusive eu tento colocar em prática há muito tempo, viver para si mesmo, pensar primeiro em si mesmo. Continue assim, foi um bom dia. Abraço!

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  2. Show!
    Anseio por independência...
    Você soube, Petro, tratar magistralmente o tema. Muito bom!

    Um forte abraço

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  3. Quando a gente passa a ser nossa maior prioridade é o momento que somos nossos verdadeiros amigos mesmo.Felicidade é algo que temos que ter para depois poder partilhar.Linda semana..beijooo.

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  4. Sr. Petro, bom sabe passei e li seu maravilhoso texto por mais de uma vez...pra ser bem sincero nem sei ao certo quantas foram...Cada vez que voltava saboreava o maravilhoso gosto de suas palavras...e como li hoje no Citrico...acho que meu inconsciente resolveu imitar as palavras que vi por lá e elas...as palavras resolveram brincar de esconde-esconde comigo hoje...fiquei tão agoniado pois uma onda de sentimentos me invadiram de tal forma que me me afogaram...Sendo que agora que consegui voltar à respirar...tento dedilhar no teclado algum comentário...diferente de você, que quer aprender a ser só...eu quero encontrar alguém e aprender a ser dois...isso têm se tornado uma tarefa difícil...tenho que aprender a ser dependente...
    O dia de hoje não me foi fácil...aconteceram tantas coisas...a vida é sempre muito surpreendente...eu me surpreendo muito, pois embora saiba que sempre faço uso da emoção...por vezes ela ultrapassa tanto até mesmo a minha razão que me assusto...Embora tenha me assustado acho que os resultados foram, ou melhor espero que sejam futuramente positivos...
    Acho que não devemos nunca aprendermos à sermos sós...

    Forte Abraço!

    Vamos lá...

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