pelos 30!

sábado, 24 de abril de 2010

A vida alheia...

(Foto: N.Ribeiro)


>>> Ele chegou lá para quatro da madruga. Estava feliz e tonto supostamente. Nem comeu nada, jogou-se na cama com tênis e tudo. Pensei em retirá-los, mas poderia acordá-lo. Não consegui dormir, acho que depois do susto de ontem ficaria difícil recuperar o sono. Ao amanhecer - o sol já penetrando intenso pela janela - vi-o no computador.

- Foi boa a festa?
- Sim, muito boa! Fazia tempo que não me divertia tanto.
- Me assustei com a notícia do acidente, pensei que fosse com o carro em que estava.
- Não, não foi... vou sair...quero tomar sol por aí. Vem comigo?
- Não, não vou... quero ler, escrever... organizar minhas coisas.
- Ah, sei... então, se falar com seu amigo do blog, o Gê, tenha a decência de dizer o que penso pra ele.
- Como assim meu amigo? Decência? Tenha agido com indecência por acaso?
- Tem sim, você sabe que tem... afinal, não é você quem dá partido de minha vida para os outros? Que deturpa a minha imagem?
- Isso não é verdade... isso é uma calúnia! Eu só estou tentando dar sentido...
- À minha vida? Você acha que pode? Por que não tenta dar sentido à sua?
- Desculpa, Lins, mas você não tem controle sobre as coisas, sobre mim, faço eu o que quiser. Você não vai me impedir de escrever sobre a vida...
- Não, não vou, apenas peço que não seja indecente de escrever sobre a vida dos outros desta forma.

O barulho da porta seguia-o, e a tampa da panela lá na cozinha ia ao chão para completar o barulho.
No computador uma pequena carta:

Caro Gê... Getúlio,

Primeiramente, não estou indignado com você. Realmente comecei a escrever ontem algumas palavras, mas não deu tempo de terminá-las, então acabei rasgando a folha. Queria que você não se precipitasse ao tirar qualquer conclusão a meu respeito. Eu não sou o que ele diz de mim. Ele não sabe quem sou ainda, nem sei se saberá, apenas acha que me conhece. É um iludido.

De fato, eu não posso impedir que ele escreva sobre mim... cada pessoa tem o direito de falar dos outros: ele de mim, eu de você e você dos outrem... isso é normal. No entanto, só não devemos nos deixar levar pelo que falam de nós, construir uma identidade da qual não damos conta. Sendo assim, cuidado com quem tenta me construir para você, para os outros, para o povo... eu não sou objeto de pequenos relatos.
Um abraço,
Lins.





16 comentários:

  1. Olá Petro!
    Vim retribuir a visita feita a meu blog.
    Adorei teus textos. Sempre que possível passarei aqui.Beijos

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  2. Bom em primeiro lugar, peço desculpas à ambos, em momento algum quis causar qualquer atrito, sinceramente peço-lhes que me desculpem, não tive intenção alguma de ferir ou invadir os sentimentos de ninguém, como disse no comentário de outra postagem, fosse quem fosse o dono dos sentimentos que identidade use, que os sentimentos eram lindos...mas me parece que causei alguma chateação para ambos, não sei se a resposta de Petro a que ele dedica à Germano é para mim, pois usa trechos de meu comentário...enfim se for me desculpe, mais uma vez volto a repetir que não foi minha intenção chateá-lo...
    Se for da vontade de vcs, não mais tecerei meus comentários...e mais uma vez peço-lhes desculpas...

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  3. NInguem deveria
    ser objeto de
    breves relatos.

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  4. Estas misteriosas tramas de sem-confins nos agrega passos aos improváveis cantos...

    Continuemos...

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  5. Mary, eu é que agradeço...seu blog me surpreende a cada visita. Bjo...

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  6. Gê, não esquenta...você é uma das pessoas aqui que já conhece um pouco o temperamento do Lins. Ah, o Lins não escreveu para o Germano, foi para o Getúlio...
    Um abraço!

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  7. Herculano, valeu a visita...já li Ofá 3 vezes...escreve mais.
    Abraço,
    P

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  8. Xavier, pois é, pois é, pois é...como diz a nossa bela Macabea a Olímpio de Clarice(ou a clarice de Olimpio?).
    XeroP.

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  9. Olá meu caro, bom eu acredito que é impossível escrever sobre o outro, seja quem for, pois mesmo quando supostamente fazemos estamos na verdade escrevendo de nós mesmos usando o outro, escrevemos nossos pensamentos, colocamos um pouco do que somos no que escrevemos, não importa de quem ou do que seja, é tudo sobre nós... Exceto os analistas só podemos estar envolvidos conosco mesmos, então continue escrevendo, escreva o que sente, o que é! Abraço!

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  10. Rsrsrss, bom na verdade não havia identificado as três identidades...por suposta revelação agradeço...acreditava até então que Petro era o senhor dos sentimentos e Lins sua forma de expressão...Sendo então, que terei de tentar aproximar-me de uma terceira identidade, quem sabe a mais interessante, das três...
    Petro (senhor narrador), não fique enciumado pois consegui alguma aproximação de Lins através de vc, e acredito que consegui essa aproximação pois talvez tenhamos algo em comum, será? E o que me pergunto?
    Bom...quanto a terceira identidade...Ainda saberei mais sobre ela?
    Ahhh quanto a Mary de Mary_Flor, posso dizer lhe que é uma grande pessoa, uma amiga pessoal, uma das poucas à quem confio e pretento levar pela vida toda...
    Abraço!

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  11. Cheguei para retribuir sua visita ao Leitora, mas o texto me pegou e fui lendo os outros e aqui estou faz algum tempo. Muito interessante. Envolve o leitor.

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  12. Petro, que belo espetáculo a carta de Lins.

    Brilhante!

    Priscila Cáliga

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  13. Olá Petro!

    Primeiramente, obrigado pelo comentário. E claro, é smepre bem vindo! Semanalmente tenho procurado trazer análises novas que tratem de assuntos diversos dentro da Psicanálise.

    Excelente a citação da carta, bem consistente quando diz sobre 'identidades que não damos conta'.

    abraços

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  14. Oi, Petro!
    Vim conhecer o seu espaço e gostei muito. Te sigo por aqui. Obrigada por me visitar. Conheça os meus outros blogs. Ficarei muito feliz!
    Bjkas e boa semana!

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  15. Encontrei e gostei! Sigo você!
    Me ajude a pôr pimenta no meu blog.
    Abraços!

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  16. Oi Sonia, obrigado...vou lá sim apimentar as coisas, meu sangue é baiano. bjo

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