pelos 30!

domingo, 25 de abril de 2010

A vida alheia é um contínuo de nós mesmos...


 (Foto: M. Araújo)
>>> Pensei bastante neste dia de domingo de pouco sol. Fui acusado injustamente pelo Lins de que tento dar uma versão de sua vida, distinta daquilo que ele realmente é. Não me importa o que ele seja, o que os outros sejam para mim; importa o que ele e tantos outros me parecem ser ao longo do tempo nesta vida.

Ele me parece mecânico por nunca refletir sobre seus atos... às vezes fechado em si mesmo, às vezes expansivo demais para meu gosto. Essa é a imagem que me passa. Tenho culpa de pensar assim? Foda-se se eu tiver errado.

Antes eu não queria tecer um comentário mais direto a seu respeito, mas hoje me vejo empurrado a fazê-lo. Tudo bem que, ao tecer alguma avaliação a seu respeito, acabo revelando o meu “eu”, um pouco de mim. Eis o meu paradoxo: ao dizer sobre o outro eu digo, [inconscientemente?], sobre mim. É uma questão de aparência? Talvez...

Sei que não devemos nos ater às aparências. Mas se não nos centrarmos nas aparências, naquilo que o outro me revela a partir de seu comportamento, a que devo me ater? Seria ideal que pudéssemos conhecer profundamente o outro, com suas idiossincrasias, para daí falarmos dele, de ti, de mim. No entanto, isso é quase impossível. Não damos conta desta verdade, desta identidade mais pura, deste “ego” íntegro, até porque o outro não é o que é senão aquele que nós ajudamos a constituir nos espaços, na sociedade.

A criança que fomos, por exemplo, a criança que há em nós se apagou ao longo do tempo porque nossos pais nos fizeram grande, nos exigiram um comportamento adulto, a sociedade nos faz adulto demais – quase máquinas. Não penso em questão biológica que nos faz crescer, mas na história de nossas vidas, naquilo que exige que nós nos comportemos como homens e mulheres responsáveis por nós mesmos.

Tal conclusão me veio hoje porque Lins me passa essa ideia, ele é imaturo às vezes (ou não?). Na verdade, Lins ainda não se deu conta de que o tempo está passando. Ele não é mais uma criança, um meninote de 17 anos. Lins é um homem de quase 30, isso ele não pode negar. O tempo o envelhece o tempo todo, é verdade. Foda-se o tempo! - ele dirá daqui a mais 30 anos ao ler estas memórias. E eu posso descobrir que eu estava errado.

De uma coisa, tenho certeza. Ao longo do tempo não temos como dizer quem somos, mas como estamos sendo, afinal a vida é um eterno contínuo de nós mesmos. Lins pode até me acusar, mas ele precisa admitir para si próprio de que a gente morre um dia para dar espaço aos outros que vivem por mais alguns instantes. Eis uma crueldade inevitável, mas necessária... uma conclusão simplesmente medíocre.

12 comentários:

  1. Na verdade, Petro acredito diferentemente de Lins que ninguém é capaz de criar uma versão do que somos, pois nós mesmos somos várias e diversificadas versões, todos os dias crescemos, ganhamos, perdemos, apanhamos batemos...não literalmente com o sentido da palavra...mas acredito que todo o dia criamos uma nova versão, é claro melhorada do que fomos ontem, ou não, talvez por vezes possamos regredir...eu mesmo acredito que regredi em alguns traços...mas continuo lutando pra poder recuperá-los...Acho que Lins não gosta é de ser visto por seus olhos, talvez vc saiba ou tenha dito uma verdade à Lins, que ele mesmo saiba ser verdade...mas evita acreditar...
    Agora quando vc fala que Lins não parece ser um homem de 30 anos e acha ser um menino de 17, bom quanto à isso...embora seja sua visão, se for o caso realmente...confidencio-lhe meu caro que como ele...por vezes me deixo ter até menos de 17...Gosto de buscar à criança que habita dentro de mim e quando estou junto de crianças de verdade...permito-me fantasiar e torno-me uma delas... gostaria de esquecer me de voltar a ser adulto...

    Um forte abraço!

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  2. Olá, belo desabafo. Não acredito que trata de aparências, sei que com uma visão diferente de mundo as pessoas conseguem observar pontos que muitas vezes não notamos, então independente de ser o agora, ou de ser você refletido naquilo, ou ainda de ser tendencioso para os seus sentimentos acredito que tudo que se diz sobre alguém merece ser ouvido. Se existe algo a ser dito é porque existe também algo por trás, que incomoda, no bom sentido, alguém que se importa... Boa semana amigo! Abração!

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  3. Petro, aguardarei sua visita.

    Abraços!

    Priscila Cáliga

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  4. Grande Gê, a segunda começou cheia e intensa para estas bandas paulistas. Mas hoje quase não tive tempo de pensar. Quanto às suas leituras, suas excelentes interpretações, bem como de outros leitores aqui, de fato, vc está certo em alguns pontos. Também faço eu como autor algumas possíveis leituras...esta sua em que diz "talvez vc saiba ou tenha dito uma verdade à Lins, que ele mesmo saiba ser verdade...mas evita acreditar..." - penso que Petro tem essa vontade de entender o Lins e Lis tem um certo medo de ser revelado, o que o deixa nu diante dos outros... é aquela sensação de estar discursando diante de uma plateia e a calça cair. Puts! Sem descrição... Não sei...eu suponho.
    Um grandioso abraço e continuemos... passarei logo mais aí para fazer a lição de "pequenos fragmentos de uma vida ...parte II".

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  5. Amigo, Renatíssimo...
    Eu como leitor e autor também não acredito que as aparências possam delinear uma imagem positiva e única do outro. Por isso eu tal como vc "sei que com uma visão diferente de mundo as pessoas conseguem observar pontos que muitas vezes não notamos". Mas será que é isso que o Petro acha? O Lins já manifestou sua posição frente a isso...não suporta ser cercado por definições, eu acho. rsrs.
    Grande abraço...

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  6. A vida é um contínuo...a nossa se liga com a de todos...a de outros...o ar é o mesmo...uma grande massa que une tudo e todos...
    beijos
    Leca

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  7. Petro, concordo com o que disse sobre haver muitos leitores atualmente. Misteriosa blogosfera de blogofilosofia; e sigamos blogofilando. Muito bom, cara! Parabéns!

    Abraço do Jefhcardoso

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  8. Sempre bom, esse texto seu em especial me trouxe uma curiosa idéia: morrer para dar espaço a outrem... fascinante!
    Abraçãoo

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  9. Petro
    "Somos aquilo que conseguimos fazer com o que fizeram de nós"...( Infelizmente não me lembro a autoria)
    Penso ser uma verdade. Mas é uma verdade oculta, que vive enfiada nos cantos escuros da vida. Não se dá a perceber logo...
    Adorei o texto!
    Parabéns!

    Um grande abraço!

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  10. Oi... tem um selo pra você nos meus blogs. Aparece lá pra saber detalhes. Abração.

    Clênio
    www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com
    www.lennysmind.blogspot.com

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